sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Só tem um caminho. A Educação

Meu blog, como imagino qualquer blog, não deve ser espaço exclusivo de manifestações pessoais. No meu caso tenho todo interesse em "interagir" com as idéias dos outros, em particular de pessoas inteligentes e preocupadas com a cidadania.
O professor Praciano é um deles. Abaixo vocês poderão ler um texto de sua autoria; é um pouco extenso, mas vale a pena lê-lo até o fim.
A Revalorização da Escola
Tarcisio Praciano Pereira
Professor de Matemática - Univ. Estadual Vale do Acaraú - Sobral - Ceará

Em artigo públicado no jornal "o estado de são paulo" Amélia Império Hamburger e Ernst W. Hamburger, professores do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, chegam a conclusões que venho repetidamente apresentando em artigos, e-mails na internet: "Qualquer experiência em educação mostra os complexos problemas da valorização do trabalho dos professores, dos cursos de licenciatura e das múltiplas providências nas escolas: planejamento e investimentos em gestão, equipamentos, manutenção (inclusive de laboratórios), novas instalações."
A conclusão é a óbvia e experiências citadas no artigo dos dois professores corroboram a verdade na frase citada acima. O Estado de São Paulo, e no artigo citado os exemplos se repetem, investiu pesadamente em educação até um algum tempo atrás. O trágico é observar que a ausência deste investimento continuado conduz rapidamente à degradação da Escola e da Sociedade, e podemos constatar que hoje o Estado de São Paulo é palidamente o que foi há alguns anos atrás acompanhando a sociedade o desmonorar da sua escola pública.
O Estado do Ceará é um exemplo que acompanha o estado sulista, com números menores, mas com uma correlação estatística visível. Na mesma proporção como a Escola Pública se deteriora, também se deteriora a Sociedade.Eu tenho com frequência discutido com alunos que me procuram para escrever monografias cujo tema seria "a melhoria do ensino de Matemática". A minha primeira tentativa é convencer o orientando de que o problema não se encontra na melhoria do Ensino, em si. O problema é mais profundo, como atestam os maus resultados, generalizadamente, em todos os departamentos da Educação, portanto a questão não é de métodos para ensinar Matemática.
Os autores, embora sem a devida enfâse, mostram a correlação entre a desvalorização do professor, desvalorização salarial, desvolorização sistêmica, na ausência de concursos e de existência de cargos efetivos nas insttituições educacionais. Na frase "A desvalorização e a desorganização da profissão de professor, nos anos 70, não foram ainda compensados. A não existência de carreira e a suspensão de concursos públicos por vários anos atingiram o prestígio social da profissão. A formação dos professores e os ambientes escolares deixam muito a desejar." fica claro o ponto central do problema educacional:1) A ausência de uma carreira valorizada produz um desmerecimento natural do profissional, professor, frente aos seus alunos. Afinal, se o mestre é um condutor, um mentor, um mostrador de caminhos, e ganha mal, então o aluno, seu orientando no Ensino Médio ou Ensino Fundamental, não podem ver no mestre quem lhe possa apontar um caminho, sugerir um futuro. A consequência é uma Escola de frustações para o jovem adolescente. 2) Da mesma forma para o aluno de graduação em nossas Licenciaturas, a perspectiva de um trabalho desvalorizado e incerto, deixa de ser uma motivação para que o nosso aluno, na Universidade, tenha garra e interesse para estudar. A consequência é uma destruição paulatina da profissão de professor.É este círculo vicioso que precisa ser quebrado. Os autores dizem o que nós temos dito muitas vezes, "Melhorar a Educação no Brasil, vasto território com 60 milhões de estudantes e 1 milhão de professores, exige compromisso de todos os níveis de representação da sociedade, com clareza de objetivos em relação aos conteúdos e para uma sociabilidade democrática nas escolas." É uma pena que não tenham complementado a idéia, claramente:1) É imprescindível alterar significativamente a remuneração dos professores.2) É essencial estabelecer a carreira, com moldes claros de segurança, cargos efetivos, com uma progressão bem definida na carreira, sem uma preocupação grotesca de fiscalização mas sim uma clara compensação financeira pelos avanços adquiridos nos conhecimentos e na experiência adquirida por parte do professor.3) Investir sériamente na Escola, como instituição, criando nela os ambientes necessários ao cenário educacional, laboratórios, teatros, quadras de esporte, salas de aula dignas e próprias para o fazer educacional.4) Copiar o que acontece nos países chamados desenvolvidos, e mesmo em países vizinhos nossos, como Chile (mesmo que não tenhamos fronteiras comuns), a escola de tempo integral, para, durante algum tempo minorar a miséria familiar criando condições para que o futuro cidadão não seja uma cópia do seus falidos pais.5) Como nos encontramos num verdadeiro estado de crise, e não será possível pensar numa redenção da Escola sem redimir o núcleo familiar, a Escola durante um tempo não curto terá que ser responsabilizada pela ação social dirigida para o núcleo familiar para garantir que a ação da Escola sobre o aluno possa ter efeito.Os autores também apontam um problema que não é da Escola em si, mas da estruturação da sociedade, a falta de continuidade de projetos, quando se se referem, em particular à Escola, dizendo "Muitas escolas públicas desenvolvem bons projetos, mas são interrompidos. Não atingem escala necessária para causar mudanças duradouras. Citamos algumas ações que, no passado, foram significativas com professores nas salas de aula."
Os projetos que a Escola podem produzir, avalizados e recebendo o apoio econômico do poder público, podem ter repercursão profunda a relativo curto prazo. Vejamos um exemplo, a Escola ensina biologia e ciências e pode estender à sociedade as consequências do seu ensino levando, aos pais, ao poder municipal, e à sociedade onde ela estiver inserida, a preocupação ambiental e as soluções para os problemas ecológicos, como aplicação imediata do seu ensinamento. Desta forma estaremos vendo que o investimendo na Escola se pode transformar a curto prazo numa alteração profunda do meio ambiente, desde que a escola seja prestigiada, volte a ter o seu respeito restaurada para que quando fale seja ouvida e tenha meios para levar para a Sociedade os mecânismo de aplicação do seu conhecimento. Este último item significa ver na Escola uma instituição que aplica os seus conhecimentos como forma de práticar o ensino que produz e portanto ela tem que ter uma verba assignada para que possa fazer esta prática. É concluir que a Escola não é um brinquedo mas sim um forte instrumento transformador da Sociedade.Agora, para que isto se torne uma realidade não podemos esperar de um professorado mal pago, sem perspectivas claras de uma carreira bem estruturada que lhe de a sensação de que tem uma profissão, que é uma profissão séria e segura. Também não se pode esperar que isto se realize quando o prédio em que funciona a escola não merece respeito, não é um local agradável de se estar e trabalhar. Tão pouco se pode esperar que a escola tenha repercursão se ela não puder oferecer, no alcance do seu braço, um apoio respeitável ao educando que a procura (ou é empurrado para ela).Estão mentido os administradores da coisa pública, dizendo que procuram uma sociedade melhor, sem insegurança, quando não investem claramente e pesadamente na Escola, no seu corpo docente, na sua infra-estrutura.
ReferênciaEnsino de Ciências - caminhos conhecidos.
Quarta-Feira, 13 de Fevereiro de 2008 - Jornal "O Estado de São Paudo

Nenhum comentário: