sexta-feira, 9 de maio de 2008

Assim como Oposição, imprensa livre faz bem à Democracia

Do blog do ex-governdor cearense Lúcio Alcântara

Imprensa e Estado II

Parlamentares da oposição e a imprensa, de uma maneira geral, criticaram a idéia da criação da TV Brasil pelo Governo Federal.O temor era que a nova televisão fosse mais uma máquina de propaganda do Governo, além dos custos com uma atividade suprida satisfatoriamente pela iniciativa privada. Assim, segundo eles, não se justificaria a medida.Dois fatos ocorridos vieram dar alguma razão aos críticos:
1- O jornalista Eugênio Bucci acaba de publicar o livro Em Brasília, 19 horas. Ele presidiu a Radiobras, no Governo Lula. É professor universitário, respeitado teórico da comunicação, tem livros publicados. É militante do Partido dos Trabalhadores (PT). Foi responsável pela parte de comunicação do programa de governo do candidato Lula e primeiro editor da revista Teoria e Debate, editada pelo PT de São Paulo. Não lhe faltam credenciais profissionais e partidárias, portanto.Não obstante, menciona no livro as pressões e críticas que recebeu de ministros e outros membros do Governo sobre a programação da Radiobras, por eles considerada de "oposição", contrária aos interesses do Governo.Revela, assim, as dificuldades que enfrentou na busca de garantir que o noticiário da emissora, financiada pelo Tesouro Nacional, isto é, pelo povo brasileiro, fosse isento e transparente. Entende ele que informação é um direito tão fundamental quanto a educação, a saúde ou a moradia.
2-O jornalista Luiz Lobo, demitido da TV Brasil, acusou o Palácio do Planalto de interferir na programação da emissora. Segundo ele, a direção da TV teria proibido o uso do termo dossiê, que seria substituído pela expressão levantamento sobre o uso dos cartões. Ele acusou Jaqueline Paiva, coordenadora de telejornais da TV Brasil, de editar textos conforme interesses políticos do Governo. Ela, por sua vez, justifica a demissão por impontualidade e recusa em assinar contrato de trabalho.Luis Carlos Belluzzo, Presidente do Conselho Curador, integrado por várias personalidades, decidiu instalar comissão para ouvir as partes e investigar o assunto. Age em defesa do caráter público, que deve orientar o funcionamento da empresa.
Os dois episódios ilustram a dificuldade que existe para que um órgão de imprensa estatal seja isento e imune às pressões do Governo, para colocá-lo ao seu serviço. O problema só pode ser minorado dando-se a ele independência, liberdade de ação e acompanhamento, mediante instâncias administrativas de controle social. A BBC, emissora inglesa, é o melhor exemplo disso. Nem assim está imune a críticas.
Por isso, quando o Governador do Estado do Ceará propôs, e a Assembléia Legislativa cearense aprovou, a transferência da TV Ceará, da órbita da Secretaria de Cultura (Secult) para a Casa Civil, pasta eminentemente política, alertei sobre os riscos de distorção funcional que estávamos correndo.Sugeri a criação de um Conselho Curador, capaz de acompanhar a programação da emissora, zelando pela sua natureza pública e servindo como canal de comunicação com a sociedade. Infelizmente, o cuidado que houve na criação da TV Brasil não se reproduziu aqui.A TV Ceará é uma TV pública ou uma TV do Governo? Respondo à pergunta com outras duas:Algum crítico do Governo, parlamentar ou não, já foi convidado a participar de um de seus programas de maior duração, para expor seu ponto de vista?As polêmicas viagens do Governador cearense em jatinhos fretados, que ocupam largo espaço na mídia local e nacional, foram, alguma vez, sequer mencionadas nos seus noticiários?
A conclusão é sua!

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