sábado, 7 de fevereiro de 2009

Antecipando o jornal O Povo de amanhã....


Rumo à aposentadoria?
por Érico Firmo

Caso Ciro Gomes (PSB) mantenha o que disse pouco antes da campanha eleitoral do ano passado, provavelmente não será mais candidato a cargo eletivo. Em junho do ano passado, o deputado federal que teve maior votação proporcional do País em 2006 disse ao O POVO que, ou será candidato em uma chapa presidencial no ano que vem, ou se retira das disputas eleitorais. À medida que a primeira opção se distancia, a aposentadoria pode estar batendo à porta.

Como irmão do atual governador, ele não pode, pela lei, concorrer a nenhum cargo no âmbito estadual. A exceção seria deputado federal, pelo fato de já ocupar o posto, o que lhe confere o direito a tentar a reeleição. Mas não poderia concorrer, por exemplo, a senador ou mesmo a deputado estadual. Ciro, no entanto, tem dito – e demonstrado – que um novo mandato na Câmara não lhe interessa.

Suas opções preferenciais – a candidatura a presidente ou vice-presidente da República – são, porém, cada vez mais improváveis. A pesquisa CNT/Sensus para a presidência da República, divulgada na semana passada, mostrou-se desastrosa para suas pretensões. Nas duas simulações nas quais foi incluído, ele foi sempre o terceiro colocado, em listas que incluíam apenas três candidatos. Ficou atrás não apenas do candidato do PSDB – fosse ele José Serra ou Aécio Neves –, mas também de Heloísa Helena (PSol).

Ressalte-se ainda que a pesquisa trabalhou com cenários favoráveis a Ciro. Ele apareceu, nas duas simulações, como único candidato da base governista. Não foi apresentado um cenário que incluísse, além de um dos tucanos, Heloísa e Ciro, a ministra Dilma Rousseff (PT), candidata do coração do presidente Lula.

Hoje, é praticamente impossível a hipótese que o PSB chegou, em algum momento, a vislumbrar: Ciro ser ungido o candidato da base governista. Nem mesmo o trunfo de ter sido duas vezes candidato à Presidência deve mais surtir efeito. Afinal, com esse currículo, está em situação pior que a de Dilma, que nunca foi nem sequer candidata a vereadora. Uma eventual candidatura própria demonstra cada vez menos viabilidade. E dificilmente o PSB deixaria o barco de Lula para embarcar numa canoa furada.

Sem espaço para concorrer a presidente, Ciro também não terá facilidade para entrar como vice em uma das chapas. No bloco governista, o PMDB tem preferência total. Já com o candidato preferido do PSDB – Serra – Ciro trava uma disputa judicial por causa de insultos que trocaram no passado. O deputado cearense só teria chance caso o candidato fosse Aécio – o que é improvável.

Tudo muda, é fato, se o PMDB resolver se aliar ao PSDB. Assim, o PSB se tornaria o candidato natural a indicar o vice de Dilma. Mas, mesmo dentro de seu partido, Ciro teria concorrentes. A começar pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente da legenda.

Sobra a ainda remota hipótese de Aécio ir para o PMDB, sair candidato a presidente e colocar Ciro, com quem tem ótimas relações, como vice. Esse cenário pode ganhar força em função das vitórias peemedebistas no Congresso Nacional, que alimentam as ambições da legenda.

Ainda assim, o que é hoje mais provável é que, caso não decida concorrer à reeleição na Câmara dos Deputados, Ciro acabe mesmo abraçando a aposentadoria eleitoral.

Vocação parlamentar
A política é mesmo cheia de surpresas. Quando Tasso Jereissati (PSDB) foi eleito senador, poucos viram no político severo, talhado ao longo de 12 anos no Executivo, um potencial parlamentar. Mas o tucano tornou-se referência em Brasília, sentiu-se em casa no plenário onde seu pai atuou há mais de quatro décadas e não demonstra qualquer empolgação cada vez que um aliado defende que deixe a confortável posição no Legislativo e prega sua quarta candidatura ao Governo do Estado.

Com Ciro Gomes ocorre o oposto. Cria do parlamento – foi líder do primeiro governo Tasso na Assembléia Legislativa – e orador fluente, parecia ter perfil de quem logo se tornaria uma das referências na Câmara dos Deputados. Passada mais da metade do mandato, não tem qualquer projeto digno de nota, sua média de discursos fica em torno de um por mês – e, para além da quantidade, não teve nenhuma manifestação que faça jus à sua fama.

O deputado de 667 mil votos tem, pelo contrário, atuação das mais tímidas. Típica de quem não se encontrou no Congresso Nacional, e já desistiu também de procurar lugar. Parece apenas esperar o mandato terminar e chegar a próxima eleição para saber que rumo tomará. Enquanto aguarda, vai sendo atropelado pelo trem da política.

Ciro míngua eleitoralmente, no plano nacional, por seus próprios erros. Na Câmara dos Deputados, desapareceu, perdeu visibilidade. Nas últimas eleições municipais, suas principais apostas – em Fortaleza e em outros lugares – não saíram como esperado. Em Belo Horizonte, por exemplo, seu amigo e aliado Márcio Lacerda (PSB) por pouco não perde uma eleição que parecia barbada.

Na sucessão de equívocos, apostas frustradas e certa dose de acomodação, o homem que, não faz muito tempo, era o cearense mais influente em Brasília, parece ver, cada vez mais, naufragar seu projeto de construir uma gloriosa carreira no plano nacional.

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