sábado, 17 de janeiro de 2009

Uma visão de estadista

Sistema de Sublegendas
por Cristovam Buarque - senador PDT - Brasília

O jornalista Ricardo Noblat afirma que as eleições de 2010 vão escolher o sexto mandato presidencial, no mesmo bloco. De Collor a Lula foram cinco mandatos de um mesmo projeto nacional. Algumas diferenças de personalidade, ênfase e estilo, mas nenhuma substancial do ponto de vista dos rumos do País. Um mais generoso que outro nos aspectos sociais, um menos radical que outro na redução do papel do Estado, um mais competente que outro no combate à inflação. Mas cinco governos sem qualquer inflexão de rumo, nenhum futuro alternativo sendo construído.
É como se no Brasil o chamado Sistema de Segurança que dominava o processo político da ditadura, tivesse sido substituído por um Sistema de Sublegendas que domina o processo político da democracia. O Sistema de Segurança escolhia o próximo presidente no Exército, desde que nada mudasse de substancial; agora, permite-se ao povo escolher o próximo presidente de qualquer partido, desde que estes partidos sejam apenas sublegendas do Sistema.
Enquanto o PT não era sublegenda, propunha uma inflexão de rumo, o sistema não aceitava Lula, como não aceitou Brizola. Da mesma forma que o sistema militar não aceitou o Gen. Euler Bentes, porque ele propunha uma reorientação no modelo político. Não se ajustava ao Sistema.
Em 2006, não havia diferença substancial nos programas entre os dois grandes competidores e não haverá diferença entre os programas que se prevê para 2010, nenhuma inflexão em qualquer dos setores da sociedade brasileira.
A observação dos resultados dos últimos anos mostra grandes acertos na continuidade das bases econômicas, na consolidação da democracia, na generosidade das políticas assistenciais; mas indica que o país perde terreno em um mundo global baseado na economia do conhecimento, que nossas cidades estão se degradando, a floresta amazônica está sendo destruída, que a violência cresce, que a desigualdade – não apenas de renda, mas de qualidade de vida – se amplia, que a economia se faz mais vulnerável às tendências de médio e longo prazos, que o imediatismo e o corporativismo dominam cada vez mais as decisões políticas, agravando a perda do sentimento de pátria e nação.
O Brasil precisa de uma inflexão que mantenha os acertos do passado, na responsabilidade fiscal, na existência de políticas sociais, na garantia das regras democráticas, na abertura comercial. Mas, precisa de uma mudança que possa tirar o País da rigidez estrutural em que se amarra.
Esta inflexão deve fazer com que não apenas ajudemos a indústria automobilística a vender mais automóveis, mas também a que ela mudasse o perfil de seu produto; a inflexão deve tirar o Brasil da vergonhosa lentidão como enfrenta o problema educacional e ir além das Cotas, Fundef, Fundeb, Piso Salarial, fazer uma revolução que provoque o salto para em poucos anos a sociedade brasileira ser toda ela educada, criando a base para o funcionamento de diversos importantes centros científicos e tecnológicos de padrão mundial em todas as áreas; deve reorientar os programas baseados em bolsas-assistências para programas de transformação social mesmo que usando bolsas-transformadoras; ir além das pequenas avaliações do impacto ambiental e implantar um modelo econômico que conviva em equilíbrio com a natureza.
Para conseguir uma inflexão no Brasil é preciso uma inflexão na maneira como são escolhidos os candidatos: criar um turno anterior ao primeiro, as prévias; fazer com que o primeiro turno seja respeitado e não desconsiderado pela mídia que, antes mesmo das eleições, escolhe aqueles que irão ao segundo turno; e chegar ao segundo turno com propostas alternativas e não apenas a repetição do mesmo, em sublegendas do sistema.
É Preciso desfazer o Sistema de Sublegendas: provocar um debate dentro e entre os partidos, na hora de escolher seus candidatos, não por estilos e personalidades, mas por programas.

Nenhum comentário: