quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Por Falta de Espaço...

... Não é exatamente espaço físico que está me faltando; não estou encontrando mesmo é onde escrever e divulgar minhas inquietações de sempre. Por isso resolvi "chamar" de volta para a WEB o Discordando do RUI.
E ofereço para quem quiser ler, antes que o assunto envelheça, minha opinião sobre o recente episódio das vaias destinadas ao governador Cid Gomes e ao prefeito Veveu, na noite do último dia 23/10, na margem esquerda do Acaráu.

As Praças e as Vacas...e o Povo
Um tributo ao professor Jander Alcântara

... Estas as há de todo tipo, com arquiteturas as mais diversas: quadradas, losangulares, em anfiteatro, arborizadas ou não. Há até espaços públicos que às vezes se transformam em praças-palanque para que, num misto de panis et circenses e púlpito iluminado, os governantes falem para seu público cativo, o povo-gado, vaquinhas de presépio, quase sempre ordeiro, servil e dócil. No ocaso de 2010 no entanto, na cidade do Cairo-Egito, alguém pensou que esses ambientes poderiam ser úteis pra fazer justamente o contrário, ou seja, protestar contra os poderosos. E na praça Tahrir nasceu a primavera árabe, que logo se estendeu via web-redes sociais-youtube para o Marrocos, Barein, Líbia, Tunísia , Síria, Argélia. Ela já serviu inclusive de inspiração para protestos em países aparentemente sem ditaduras nem ditadores; o occupy Waal Street na liberty Plaza em Nova Iorque, contra o sistema financeiro, é um deles.
Quanto àquelas, são todas iguais. Malhadas, marrons, pretas , brancas, seja na Índia onde são consideradas sagradas ou no nosso semi-árido nordestino, todas produzem leite branco ou viram fonte de proteína na cadeia alimentar . E, ao contrário das praças, todas cumprirão até o final dos tempos – que não seja em 12/12/2012 - as mesmas “funções”; e terão sempre os mesmos hábitos, próprios do gado vacum. Um deles é o de , enquanto caminham pastando ao mesmo tempo vão evacuando; não estão nem aí, porque irracionais, para a natureza ou para os pudores e conveniências dos seus donos.
Bem mais evidente nos regimes das ditaduras, mas nem por isso ausente naqueles disfarçados de democracia, o comportamento de alguns políticos ( em tese racionais ) tem sido semelhante àquele último das inocentes vaquinhas, coitadas: eles estão “cagando e andando pro povo”, nem aí pra ele, não por acaso seu único e verdadeiro patrão. Esquecem que temos autoridade sobre seus mandatos, que pagamos seus salários nababescos. Esquecem ainda, desmerecendo o risco que correm, que estamos acordando da letargia e se quisermos os colocaremos na fila do seguro-desemprego, condenando-os ao ostracismo e ao esquecimento. Basta não votarmos mais neles. Simples assim senhores governantes; fácil assim, amigos eleitores.
Na praça Tahrir , em dezembro de 2010; na esplanada dos ministérios/Brasília e na avenida paulista/São Paulo, em setembro e outubro de 2011; na liberty plaza, Nova Iorque , em 17 de setembro de 2011... e na margem esquerda do rio Acaraú, em Sobral, na noite de 23 de outubro de 2011. Que sentimento coletivo de indignação motivou platéias de culturas tão distintas, geograficamente tão distantes umas das outras, a se comportar como se comportaram? A ousar e desafiar , dedo em riste, os poderosos de sempre? Afinal, para eles só podemos manifestar apreço e gratidão eterna pelo muito que têm feito, pelas obras que construíram – como se fosse favor e não obrigação -, por isso, por aquilo e aquilo outro....Então o povo-gado é ingrato e desrespeitoso se reclama, critica, discorda, ou , ousadia extrema, crime de lesa-arrogância, VAIA.
O que aconteceu nas “Arábias”, em Brasíia, São Paulo, Nova Iorque, e o que parece, começou a acontecer no Ceará, na margem esquerda do rio , nossa Tahrir tupiniquim, foi o despertar da cidadania, da compreensão dos nossos direitos como verdadeiros donos do poder ( ...todo o poder emana do povo , que o exerce por meio de representantes eleitos... artigo I, parágrafo único – CFB 1988 ); e do nosso dever , num estado democrático e de direito , de explicitar o contraditório, a discordância, as insatisfações e decepções com o modelo que está posto. Eles, além mar e ao norte, com passeatas, piquetes, guerras de guerrilhas; e nós aqui, com faixas , cartazes, apupos e vaias muitas, estamos redescobrindo a plena democracia.
Podemos e devemos continuar nos indignando, não necessariamente como têm se indignado os da primavera árabe, cometendo assassinatos e chacinas e agredindo os tratados internacionais do direito e da dignidade humana. Longe disso aqui entre nós. Nossa primavera sobralense ( e cearense ) será completamente vitoriosa usando-se apenas uma arma, tão poderosa contra os maus políticos, que transforma suas noites e dias em eternos nightmares e halloweens: o voto consciente.

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