segunda-feira, 2 de junho de 2008

Os Zumbis da Globalidade

Meu amigo Tarcísio Praciano é, como eu, um incomodado permanente. Como alguém já disse que "... os incomodados é que movem o mundo...", nada melhor que juntar num mesmo espaço os nossos "escritos" que refletem nossos incômodos. A propósito, convidei também o meu amigo Zé Albero Dias Lopes (outro incomodado) para participar do blog.
Hoje o texto é do Tarcísio Praciano.
Os Zumbis da Globalidade
Zumbi deveria ser uma palavra respeitável, lembrando o Zumbi dos Palmares imortalizado, que ironia, em Brasilia, como se pode ver na páginahttp://en.wikipedia.org/wiki/Zumbi da Wikipedia, a enciclopedia livre na Internet. Infelizmente, até pela luta desesperadora dos herois dos Quilombos, terrivelmente dizimados pelas forças da repressão à liberdade que eles representavam, a palavra zumbi representa hoje com frequência uma população enloquecida (como pensavam os repressores que os habitantes do Quilombo eram).
É neste sentido infeliz, e não no sentido respeitável que estou usando a palavra zumbi, até mesmo porque não encontro outra. Um zumbi, diferente dos heróis do Quilombo, é um ser enloquecido que zanza perdido, dirigido por forças que nem ele entende. Os zumbis da modernidade, da globalidade, do desenvolvimento sustentável, desde que continue tudo como está, porque disseram para este zumbi que é possível continuarmos zanzando de carros nas ruas cada vez mais largas das grande cidades, mas também cada vez mais entupida de carros engarrafados, cheios de zumbis espreitando aterrorizados aos vendedores de bugingangas ou limpadores de para-brisas (com aqueles liquidos sujos e pás ainda mais sujas), ou simplesmente crianças esqueléticas estendendo a mãozinha num gesto desesperado em busca de um trocado, enquanto que do outro lado se encontra um zumbi apavorado, escondido atrás de um vidro escuro, bem fechado e respirando um frio ar poluido dos gases do carro da frente.
É o mundo dos zumbis, o comportamento deles é semelhante, são feitos da mesma matéria, defuntos re-encarnados por algum médico psicopata devoto da nova religião chamada globalidade. Falam uma mesma linguagem em que se repetem vocábulos do tipo "parceria", "modernidade", "empreendorismo", "inovação", "desenvolvimento sustentável". Quando você escutar alguém com este vocabulario na ponta da lingua, se afaste, é um zumbi da globalidade. A doença de que eles sofrem é contagiosa, na verdade vem através das ondas da tv, todos eles gastam várias horas por dia pregados na maquina de fazer imbecis (Stanislaw Ponte-Preta chamava de"fazer loucos", hoje certamente ele diria "fazer imbecis"). Outra coisa que caracteriza um zumbi da modernidade é que ele é adicto sempre de um time de futebol, o melhor de todos os times, seguindo as instruções da tal máquina de fazem imbecis. Arrotam arrogância e cinismo, e ao invés de estarem lutando por melhores condições, estão tirando vantagens aqui e ali, assumindo cargos no privado mas trabalhando no serviço público, que no privado eles execram como imprestável e incompetente, mas continuam recebendo o salário do serviço público e trabalhando no privado mais do que trabalham no público. E sempre falando que a redenção do serviço público são as "parcerias" as "inovações"o "empreendedorismo". Se perguntarmos a qualquer um deles o que significam este vocabulos, eisque ficam engasgados, gagüejam e finalemnte nada explicam: "ppppaarceria é a innooooovaçao doooo emmmpreeededorrismmmooo no deseeenvolvimento suuuustentável! " '
Ora, a gente podia ajudar o zumbi; empreendedorimo é a terceirização do serviço público em que o dinheiro público é repassado para um intermediário, um gerente que nada fará a não ser colocar para trabalhar alguém que irá receber menos porque parte do que ele receberia, se fosse um autêntico servidor, fica nos bolsos do zumbi que está intermediando e destruindo o serviço público e com ele a nação. Isto também define parceria, ou desenvolvimento sustentável ou inovação. Estas palavras todas são sinônimas. Que me perdoem os heróicos Zumbis dos Palmares pelo empréstimo, desastradotalvez, de seus honrados nomes.

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